Lembra-se dos seus professores de liceu? Gostava que tivessem sido avaliados?
Lembro-me do Liceu Pedro Nunes na época 1975-1980. Toda a gente estava em autogestão e auto-avaliação. Os professores, mais do que avaliados, eram saneados.
Alguma professora foi responsável pelo argumentista em que se tornou?
Não tive a sorte de ter professores inspiradores. O que me fez argumentista foram os livros de BD e de aventuras que lia religiosamente. E a RTP que via todas as noites nos anos 60 e 70.
A RTP já não é inspiradora?
Muito raramente. Passou a haver outras estações mais inspiradoras, sobretudo internacionais.
No período em que ponderou assegurar a direcção de programas da RTP, houve quem tentasse "meter cunhas"?
Houve quem tentasse imediatamente muita coisa [risos].
Há quem defenda que o tempo livre fomenta a criatividade dos alunos. Descobriu o seu potencial criativo nos "furos" das aulas?
A grande aprendizagem foi feita nos intervalos das aulas. Descobri que adorava jogar futebol, coisa que fazia com imenso prazer e que não fazia mal. Posso dizer - retrospectivamente e com vaidade - que era um jogador criativo.
Ainda joga futebol?
Devia, mas já não.
A ministra da Educação colocou-se a jeito para a manifestação dos 'cem mil'?
Muito a jeito. Simpatizo mais vezes com a razão da ministra do que com a dos sindicatos. Mas antes disso, estou com os professores, que precisam de tempo livre para motivar os alunos. A motivação vem sobretudo de um sistema que não os aprisiona em estupidezes burocráticas.
Uma classe com medo de ser avaliada não condena o país ao Portugal dos pequeninos?
Não é a questão de ser avaliado - é por quem, de que forma e em que circunstância. É preciso é que o método de avaliação seja claro e premeie os bons professores e não os bons burocratas.
Qual das alas - ministério/docentes - representa melhor o eixo do mal?
Não quero diabolizar o ministério nem os professores nem os sindicatos, mas o eixo do mal é transversal.
O homem da Educação escolhido por Luís Filipe Menezes, Pedro Duarte, está à altura do debater o problema?
O problema do PSD é que não está à altura de nada. Há muitos anos. Esta embaraçosa direcção do PSD prova que, depois de Santana Lopes, ainda pode vir pior.
O que pode revelar ao país do ministro da Cultura, António Pinto Ribeiro, ex-sócio da Produções Fictícias (PF)?
Nada [risos].
Mas imagina-o a sobreviver em 2009, caso José Sócrates sobreviva também?
Imagino. Se sobreviver como ministro é óptimo para o país e pior para ele. Se sobreviver como não-ministro é óptimo para ele.
Há muita gente a pedir para estagiar na sua PF?
Neste momento há muita, muita gente. Mas somos uma pequena produtora. Não temos capacidade de decidir fazer este programa ou aquela série. Isso continua nas mãos dos mesmos do costume. Em Portugal não há indústria independente audiovisual. Dependemos dos três ou quatro directores de programas que têm decidido tudo o que se deve por no ar.
É sensível aos novos talentos ou receia um novo 'gang' de argumentistas com mais piada do que os seus?
Vivemos há 15 anos de novos autores. Todos começámos como um novo talento. Não somos um gang; somos uma rede de gangs. Cada argumentista é, ele próprio, um gang com os seus heterónimos. É assim desde Pessoa.
Sem medo da concorrência?
Não tenho receio nenhum porque estamos sempre a evoluir para outras coisas. É muito estimulante que apareçam pessoas novas. Obrigar-nos-á a fazer ainda melhor ou a partir para outra.
Sente que a sua produtora colocou o país a rir?
Há muita gente que coloca o país a rir, nem sempre pelas melhores razões. Mas uma das melhores sensações que há é fazer rir uma pessoa. Se nós contribuímos para isso, óptimo. Sobretudo porque o fazemos voluntariamente.
Qual é a frase que assinou de que mais se orgulha?
Não sou muito de me orgulhar; sou mais de ficar feliz. Mais do que frases, o que tenho feito melhor é ter tido algumas ideias.
O que é que não aconteceu em 2008, e gostava mesmo que já tivesse acontecido?
Que o país tivesse ficado subitamente civilizado.