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Sábado, 25 de Agosto de 2007

Vasco Graça Moura: "Marques Mendes vai destronar José Sócrates"

 

Helena Teixeira da Silva

O mais certo, disse, seria só conseguir responder dali a dois dias. Vasco Graça Moura, 65 anos, há-de ter contornado a agenda para enviar as respostas no dia seguinte, de manhã cedo. Escritor transpirado; cavalheiro enxuto. Homem do Porto a viver  em Lisboa diz ser cáustico quando tem que ser. 

 

Alguma vez leu literatura dita light? Mesmo que só por curiosidade?

Uma ou duas vezes. Uma das personagens de um romance que escrevi há alguns anos, Meu amor era de noite, é uma autora de literatura light…

As suas tournées pelas livrarias com Pacheco Pereira incluíam a aquisição de livros de bolso ou os livros têm que ser, também, objectos bonitos?

É raro comprar livros de bolso. Só o texto não tiver saído noutra edição ou se se tratar de uma coisa que não se encontra de outro modo. Um livro deve durar 300 anos. Mas não nego a extraordinária importância dos livros de bolso para a democratização da cultura.

Antes de José Saramago ganhar o Nobel [1998] afirmou que gostava que um escritor português vencesse esse prémio literário porque seria importante para a afirmação da nossa cultura no mundo. Agora, ele veio dizer que Portugal devia pertencer a Espanha. Diria que Saramago é um mau embaixador do país?

Saramago não é um diplomata, é um grande escritor português. Era muito pior se ele fosse um bom embaixador e um medíocre escritor.

O que lhe parece mais grave: a ministra da Cultura não ter comparecido nas comemorações do centenário de Miguel Torga ou ter dispensado Dalila Rodrigues do Museu Nacional de Arte Antiga?

De longe, que Dalila Rodrigues tenha sido dispensada. Esse facto cria um gravíssimo problema cultural. A grandeza de Torga dispensa rituais com a presença de qualquer membro Governo.

Um homem da sua craveira fica realmente magoado quando, fruto das suas opiniões publicadas, é atingido com etiquetas como "caceteiro", "trauliteiro" ou "arruaceiro"?

Não sabia do “arruaceiro”. Os outros dois termos são a reacção normal de quem não tem argumentos para o que eu às vezes digo. Não me faz impressão nenhuma, a não a de que acertei no alvo…

A idade ensinou-o a ser menos cáustico ou perdeu só o prazer de contestar? Não sou cáustico por natureza ou profissão. Sou-o quando entendo que devo sê-lo. E isso não tem nada a ver com a idade.

De que é que não gostou exactamente nos anos 60: do sexo, da droga, do rock'n'roll ou do facto de toda a gente se achar de esquerda?

Já escrevi “uma boa merda, os anos sessenta”... Foram a década da desagregação das sociedades de modelo democrático ocidental. Não trouxeram nada que se tenha tornado uma alternativa válida. Só piolheira e contestação.

O seu partido - PSD -  tem já dois candidatos às legislativas de 2009: Mendes e Menezes. Acredita que algum deles pode destronar José Sócrates?

Marques Mendes vai fazê-lo. É evidente.

O PSD foi o partido da silly season. Já se disse que sofre de disfunção eréctil, que precisa de uma semana nas termas, que pode acabar do tamanho do Bloco de Esquerda ou que não pode viver com comprimidos. Qual é o seu diagnóstico?

Que, na silly season há sempre alguém suficientemente parvo para dizer parvoíces dessas. É sinal de que o PSD está bem e se recomenda.

Também teme que todos os intelectuais do partido acabem por transformar--se em dissidentes, como José Miguel Júdice?

Não. Temo, sim, que JMJ acabe por tornar-se dissidente de si mesmo.

E acha, como os advogados deste país, que eles deviam ter, ao contrário da maioria, dois meses de férias?

Advoguei durante uns 16 anos. E nunca tive dois meses de férias. Nesse período, havia sempre muito que fazer durante 5 ou 6 semanas.

Traduziu a obra de Dante. O que é que na sua vida é equivalente ao inferno, ao purgatório e ao paraíso que o poeta encontra em "A Divina Comédia"?

Inferno: emperrar numa tradução. Purgatório: andar às voltas com ela e julgar que não saio dali. Paraíso: chegar a uma solução satisfatória.

Arrebata-o mais uma mulher como Berenice [Jean Racine] que prescinde do Amor por achar que ele não justifica a queda de um império ou uma mulher como Cléopatra [Shakespeare] que finge suicidar-se por julgar-se preterida? Hoje em dia, a única mulher que me arrebata é a minha.

É certo que ambas acabaram por morrer. Hoje, já ninguém quer morrer por amor?

Não é evidente. E é preferível morrer por amor do que por um ataque terrorista.

A sua poesia é o palco das suas fragilidades?

Não. É a expressão das minhas possibilidades.

Diz que a escreve mais com transpiração do que com inspiração. Quer dizer que um poema nunca lhe sai do coração?

Pode sair, mas só se torna objecto literário pela técnica “transpirada”.

Ainda troca postais com selo de correio com os amigos do peito. É um romântico na forma de viver a amizade?

Nunca escrevi mais de dois ou três postais na vida. Vivo a amizade numa dimensão de lealdade e de boa fé.

Gostava de ter sete vidas como os gatos ou uma basta-lhe?

Preferia durar como as tartarugas, desde que em boas condições físicas e mentais.

Que imagem gostaria que guardassem de si?

A que no séc. XVI alguém aplicou ao Sá de Miranda: “Poeta até o embigo, os baixos prosa”.


publicado por JN às 02:46

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