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Terça-feira, 14 de Agosto de 2007

Alfredo Barroso: "A Direita dos interesses rejubila e o país amocha"

 

 

Helena Teixeira da Silva

 

Propositadamente, as perguntas são-lhe enviadas por mail com um dia de atraso  para que possa responder depois do jogo da Supertaça. É sportinguista e ganhou. Bem humorado, Alfredo Barroso, 62 anos, jornalista e advogado, braço direito de Mário Soares, analisa o estado da nação sem subterfúgios.

 

Um sportinguista interpreta o jogo da Supertaça FC Porto-Sporting como uma reposição da verdade desportiva? 

Nos tempos que correm, a verdade desportiva anda muito por baixo, como se sabe. O Sporting terá sido prejudicado no campeonato e o FC Porto na Supertaça. Se pudesse escolher, teria preferido que o Sporting fosse campeão. Como não posso, consola-me que a Taça de Portugal e a Supertaça morem em Alvalade.

Prefere ver o seu Sporting no estádio, na mesa do café ou ouvir o relato na rádio? 

Há muito que prefiro ver a bola sentado num sofá lá de casa. É mais fácil dormir quando o jogo se torna chato e sensaborão, com poucos ou nenhuns golos. O futebol está cada vez mais industrializado e tecnocrático e cada vez e menos interessante.

Paulo Bento é o «special one» do Sporting? 

Não é, e ainda bem. O «special one» é um sobreexcitado e o Paulo Bento prefere treinar «com toda a tranquilidade». O Ricardo Araújo Pereira, que é «lampião», topou-o bem.

Simpatizava com Jesualdo Ferreira. Mudou de opinião desde que ele está a treinar o FCP? 

Simpatizava, sim. Até escrevi algumas crónicas a elogiá-lo, no «DN». Mas parece-me que a arrogância lhe subiu à cabeça, quando passou a treinar o FCP. Não me agrada a forma como se refere a alguns adversários domésticos. Devia deixar esse «dirty job» para o especialista da casa, que é o presidente vitalício do clube.

Nasceu em Roma. O que há em si de italiano? 

Sem dúvida o facto de ser filho de uma italiana. E o apelido Somera, que, por acaso, até é de origem espanhola. Talvez também a paixão pela ópera, apesar da minha melomania ter sido mais influenciada por alguns portugueses.

Tem saudades da tertúlia «Os vencidos da vida», que partilhava com António Barreto e António-Pedro de Vasconcelos? Qual a razão do nome? 

Saudades não tenho. Mas as melhores referências até eram o Vasco Pulido Valente e o médico João Paulo Amorim, que já morreu. E não éramos nós que nos designávamos assim. Seria pretensioso fazê-lo. Eça, Ramalho e Antero são únicos e irrepetíveis.

É melómano. Ainda faz campeonatos com os amigos para ver quem tem mais cd’s? 

Nunca fiz campeonatos desses com os amigos. Gostava era de ir comprar discos com alguns deles. E é verdade que, no princípio, comprávamos cd’s às cabazadas, seguindo o guia da Penguin elaborado por especialistas da revista Gramophone.

     

Quando terminou (se é que terminou) a sua fase rock, altura em que frequentava a discoteca lisboeta Ad Lib? 

Poucas vezes fui ao Ad Lib. A boîte (assim se dizia in illo tempore) que mais frequentei foi a Stones. Para já não falar do Caruncho, onde ia abanar o capacete e beber um copo nos tempos do liceu e da faculdade. Ainda conservo uma pequena discoteca de música pop, completamente esmagada, é verdade, pela discoteca de música erudita.

Nunca o confundem com Alfredo Barroso, o histórico autarca do Redondo, banido pelo PCP? 

Aconteceu uma vez, quando ele ainda era do PCP, a propósito de um abaixo-assinado sobre o Alqueva publicado nos jornais. Ele assinou e eu fui notícia.

Que televisão - pública e privada - temos hoje, uma década depois de ter publicado «A televisão que temos» (Contexto, 1995)? 

A televisão generalista que descrevi nessas crónicas, a TQT, não mudou quase nada, nós é que nos habituámos a quase tudo. Como dizia o poeta, «estamos nus e gramamos».

Numa altura em que a ficção nacional parece querer ganhar espaço televisivo, defende que deve haver mais pudor na adaptação das obras de escritores como Camilo («Paixões Proibidas») ou Eça («O Crime do Padre Amaro»), ou esse pode ser um dos caminhos para despertar, nas pessoas que habitualmente não lêem, curiosidade sobre autores portugueses? 

Duvido muito que desperte. É como a história dos «Três Tenores». Também diziam que era para despertar interesse pela ópera, mas apenas serviu para um Pavarotti decadente ganhar pipas de massa. De resto, não sou, nem quero ser, censor do gosto e só posso lamentar que algumas adaptações sejam abaixo de cão.

São vagamente conhecidas as suas zangas com Mário Soares, na altura em que era chefe da Casa Civil do Presidente da República. Qual dos dois era o osso mais difícil de roer? 

Ao longo de mais de trinta anos de estreita colaboração política, alguns atritos pessoais eram inevitáveis. Foram zangas, como diz, e não braços-de-ferro de roer os ossos.

Foi, apesar de tudo, uma das pessoas a tentar demovê-lo de se candidatar às últimas presidenciais? 

Não tentei demovê-lo, nem tentei empurrá-lo. Achava que ele não devia candidatar-se, mas nunca lho disse, por considerar que eu não tinha esse direito e que lhe cabia a ele tomar uma decisão. É um assunto arrumado, do qual só guardo más recordações.

Que leitura fez do país no dia da derrota? 

A leitura óbvia: a de um país cujo eleitorado confirmava uma clara viragem à direita. Grande equívoco tinha sido considerar a vitória do engenheiro Sócrates nas eleições legislativas como uma vitória da esquerda. Era bom que fosse, mas não foi.

Continua a ser contra a regionalização? 

Claro que sim. Mantêm-se de pé todas as razões de fundo que a desaconselham. Desde logo, a total incapacidade do poder político para descentralizar e desconcentrar. É por isso que prefere regionalizar, ou seja, retalhar para centralizar em miniatura.

Essa «esquerda moderna, que se diz muito amiga dos pobres, mas prefere deitar-se com os ricos» (http://sorumbático.blogspot.com) está a conduzir o país para onde? 

Está a conduzir um país resignado e sem alternativas credíveis para patamares de maior desigualdade e precariedade. A direita dos interesses rejubila, obviamente. E o país anónimo refila, mas amocha.

Irrita-o exactamente o quê em José Sócrates? 

Já não tenho idade para me irritar. Apenas lamento que o PS seja hoje um instrumento de defesa dos grandes interesses financeiros e de empobrecimento da classe média e dos trabalhadores em geral. Quando vemos um avocat d’affaires como José Miguel Júdice a teorizar sobre a «esquerda moderna», está tudo dito sobre o estado actual do PS.

Quer explicar-me o que diz ser «a técnica da banda gástrica», que o Governo está a aplicar ao País? 

Dantes, em períodos de crise económica, os trabalhadores tinham de apertar o cinto mas mantinham a esperança de vir a desapertá-lo. Hoje, o objectivo é apertar o estômago dos trabalhadores para que eles se desabituem de querer comer mais no futuro. Só ao capital financeiro é permitido comer à tripa forra e engordar sem limites.

Ao fim de 20 anos de colaboração no DN, e de nove no Expresso, foi «varrido». Foi um divórcio de comum acordo? 

Regra geral, os cronistas convidados não se casam com os jornais. Ficam dependentes das «opções editorais» das suas direcções. Não as contesto, mas devo interpretá-las. E concluo que sou politicamente incorrecto e incómodo para os poderes do dia. Além de ter manifesta vocação para a dissidência. O facto de ter tido escandalosamente razão no que escrevi contra a guerra do Iraque e contra os Governos do engenheiro Guterres, foi um precedente que me tramou numa imprensa dirigida por «cristãos novos». 

Acabou a liberdade de imprensa em Portugal? 

Claro que não. Mas é evidente que quase todos os órgãos de comunicação social estão ideologicamente alinhados e controlados pela direita. Há alguns esquerdistas de serviço, que funcionam como uma espécie de «idiotas úteis» e «avalistas» nos jornais de direita. Mas os desalinhados e os dissidentes são banidos e marginalizados.


 


publicado por JN às 02:06

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