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Segunda-feira, 27 de Agosto de 2007

Guta Moura Guedes: "Não tenho paciência para conversas da treta"

 

 

 

Helena Teixeira da Silva

Hesitou, ponderou, quase recuou. No regresso de férias, Guta Moura Guedes, 42 anos, reavaliou a proposta e aceitou responder à entrevista. Por mail. A “senhora design”, como foi baptizada, e agora, também, rosto feminino da Casa da Música, não é “mulher de palco”.

Perguntam-lhe muitas vezes se é da família da Manuela Moura Guedes?

Às vezes. Normalmente, após a minha confirmação, comentam: “Ah, mas são tão diferentes! Não são nada parecidas!”. O que é um facto.

Está mais próxima de Ally McBeal, Carrie de "Sex and the city", Lynette Scavo de "Desesperate Housewives" ou Kate de "Lost"?

Não faço a mínima ideia. A única que eu conheço daí é a Kate do Lost, que é uma série de culto que eu vejo com os meus filhos e com os meus irmãos. Mas próxima como? Elas não são reais. Eu não me revejo em imagens, nem me comparo com ficções.

Que imagem de si lhe devolve o espelho?

A minha, espero eu. Uma mulher de 42 anos, morena, olhos claros, feliz.

 

As sardas foram, em algum momento, motivo de complexos?

Porquê? Deveriam ser?! Não concordo nada com isso! Acho-lhes tanta graça. Às minhas ou a outras quaisquer. Sempre achei, desde miúda.

Em Portugal, é mais complicado ser mulher, bonita ou independente?

Hoje em dia não é complicado ser-se mulher, bonita e independente. É bom! Bonita por fora e mulher são duas coisas que não se escolhem, nasce-se assim, é um calhar. Independência é algo que se conquista, pela qual se luta diariamente, é uma escolha. Adoro mulheres bonitas, independentes e inteligentes. É sempre um privilégio trabalhar ou estar com elas. Quem não sabe isto, não sabe o que perde.

Não tem paciência para conversas de mulheres ou não vive sem elas?

Gosto imenso do universo feminino. Dos detalhes, dos pormenores, das nuances, das perspectivas, das sensibilidades. Não tenho paciência é para conversas de café, para falar sobre o tempo, para conversas ocas, da treta, seja com homens ou com mulheres. Isso aborrece-me mortalmente. Fujo a sete pés.

O seu percurso académico foi feito de alguns recomeços. Seria capaz de começar tudo do zero outra vez?

Claro que sim. Interessa-me a energia dos recomeços e as possibilidades que se abrem com isso. Gosto de manter um lado da minha vida sólido, estável e contínuo e gosto de, noutras áreas, estar sempre aberta a novos desafios. Não me impressiona recomeçar, impressiona-me é cristalizar e fossilizar.

Que professor escolheria para voltar a tocar piano?

Não sei. Um dia hei-de pensar nisso.

Já foi cantora. Hoje, é fã do karaoke?

Eu não fui cantora, nunca tive essa profissão. Cantei em público, pertenci a um grupo de jazz e gravei em estúdio, mas isso entre muitas outras coisa que fiz. Gosto muito mais de cantar em privado. O karaoke tem uma dimensão de exposição pública que eu não gosto. Esse foi um dos motivos que me levou para fora do mundo da música. Não sou uma mulher de palco.

A sua casa é uma colecção de objectos de design?

A minha casa reflecte o que eu e os meus filhos somos e como queremos viver. Não tenho espírito de coleccionadora, não tenho a mínima paciência para isso. Tenho poucos objectos, não sou de objectos. Gosto de espaços amplos e abertos. Pouco preenchidos, mas quentes e expressivos, com móveis e equipamentos bem desenhados e calorosos.

 

Desenhou uma cadeira (Blimunda) inspirada em Saramago. Que objecto desenharia para Lobo Antunes?

Ah, mas a cadeira não foi inspirada no José Saramago, mas sim numa das personagens de um livro escrito por ele. Ao ler o Memorial do Convento algumas dessas personagens tomaram formas tridimensionais dentro da minha cabeça e eu desenhei-as. Isso nunca me aconteceu com nenhum livro do Lobo Antunes.

A propósito, o que faz "quando tudo arde"?

Deixo arrefecer. O que, dependendo do que é o “tudo”, pode levar horas, dias, meses ou anos. A seguir parto para outra, sozinha ou com os que comigo quiserem ir. Gosto muito mais de ir bem acompanhada. 

Em locais públicos, gosta de observar as pessoas ou abstrai-se?

De observar as pessoas. Sou fascinada pela variedade e por tentar perceber como é cada um. Mas não sou lá muito sociável. É-me muito fácil estar completamente abstraída no meio de muita gente, quase como se não estivesse lá. 

Alguma vez sentiu vergonha de Portugal num qualquer evento internacional?

Não. Às vezes estamos aquém do que somos, outras vezes enganamo-nos redondamente, mas nunca vi nada que me envergonhasse verdadeiramente. Embaraçou-me muito explicar internacionalmente o cancelamento da ExperimentaDesign2007 – Bienal de Lisboa devido ao comportamento de um autarca português, que por acaso era o autarca da capital de Portugal. A estupefacção geral foi enorme. E é claro que senti vergonha que isto acontecesse no meu país.

Maria João Bustorff ou Isabel Pires de Lima: qual das duas representou melhor o Ministério da Cultura?

Isso é algo sobre o qual eu falaria de bom grado com cada uma delas, mas não nos jornais. Pena é que o Ministério da Cultura, com o orçamento e meios que tem, continue a não poder ser mais do que uma espécie de fraca Secretaria da Cultura.

A Câmara de Lisboa inviabilizou sem aviso prévio a Experimenta Design. Crime ou castigo para Carmona Rodrigues?

Carmona Rodrigues procedeu erradamente em relação à Experimenta, enquanto ocupava um cargo público de alta responsabilidade. É evidente que deveria pagar por isso. Mas a vida, com as suas voltas, às vezes trata destes assuntos de um modo tão natural e tão eficaz, já viu? Eu não gosto de perder tempo a destruir ou a punir. Não acredito nisso, sequer, nem sei fazê-lo, não está na minha natureza. Interessa-me é andar em frente e deixar para trás estes infelizes acontecimentos.

Era capaz de assumir algum protagonismo político em Torres Vedras?

Muito daquilo que faço, em Portugal ou no estrangeiro, tem uma dimensão política, na expressão mais pura desta palavra. Interessa-me o trabalho comunitário, trabalhar para melhorar a sociedade. Mas a política ligada aos partidos não me atrai nada, nunca me atraiu. Não faço nenhuma questão de ter protagonismo político, nem em Torres Vedras, nem em sítio nenhum.

 

 


publicado por JN às 03:38

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