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Quinta-feira, 16 de Agosto de 2007

Miguel Ângelo: "Só em Portugal uns gozam com o sotaque dos outros"

Helena Teixeira da Silva

 

Aproveitou a boleia dos concertos a Norte para fazer escala no festival de Paredes de Coura. Não foi exactamente um acaso. Miguel Ângelo, pouco mais de 40 anos, agenda os seus concertos em função daqueles aos quer assistir. E queria muito ver Pete Doherty, ex-namorado britânico de Kate Moss. O vocalista dos Delfins não passou invisível no Minho.

 

Tem um chapéu igual ao do Pete Doherty. Veio a Paredes de Coura só para ver o vocalista dos Babyshambles?

A aba do meu chapéu é mais curta [risos]. Mas sim, vim só por causa dele.

 

O que há de comum entre os dois?

Se calhar, uma paixão por uma cultura inglesa que vem muito dos anos 70 e que tem a ver com a onda Mod. Tem a ver com uma música intemporal. E não é só a música, é a atitude: as roupas, o design, a pintura, os vídeos. Um imaginário muito rico que hoje se espalhou por todo o mundo. Em Portugal, por estranho que pareça, está a crescer também.

Ia perguntar-lhe justamente se continua a ser fã dessa cultura Mod?

Claro. E é engraçado porque enquanto estava no jazz na relva à espera do concerto dos Babyshambles encontrei vários adolescentes fãs dessa cultura, e acabámos a trocar contactos para organizar em Outubro talvez a primeira festa de Mod a sério na cidade do Porto. Já houve algumas em Lisboa, mas no Porto penso que ainda não. Ainda são festas elititas, não são para grandes multidões. São para quem partilha os mesmos ideais, os discos de vinil e as mesmas ondas.

 

Continua a comprar vinis?

Sim, sim. O novo disco dos Delfins será editado com uma edição limitada de 500 exemplares em vinil, em meados de Setembro. Nesta altura em que o digital banalizou tanto as canções com o formato MP3, o vinil acaba por ser um tesouro para os coleccionadores.

Continua a marcar as suas férias em função dos concertos que quer ver?

Sim, claro. Dos concertos que quero ver ou dos concertos que faço. Consegui vir a Paredes de Coura porque tive vários concertos no norte e acabei por ficar cá. E agora vou uma semana de férias para o Algarve porque vou actuar em Monte Gordo. Acabo por ser um escravo da minha actividade. Mas eu gosto.

 

O que leva a alguém a aprender a tocar guitarra aos 40 anos?

Querer ser ind(i)ependente.

 

Ao fim de quase 25 anos, como é que os elementos dos Delfins ainda conseguem aturar-se?

Quando entramos na carrinha, quando estamos a jantar, quando estamos em palco continuamos a ter a mesma idade. Às vezes, o problema é só mesmo nos intervalos, porque as pessoas acabam por ter modos de vida diferentes e diferentes opções estéticas. Mas a magia da sala de ensaios, da garagem, continua a acontecer nos nossos palcos. E enquanto isso acontecer vamos continuar.

 

Os Delfins transformaram-se no alvo preferencial do humor em Portugal. Como lida com esse estigma?

Isso foi despoletado por dois ou três tipos do stand up comedy e depois acabou por pegar moda. Neste momento, até já está a ser um bocadinho invertido. É aquela história dos diários de Andy Warhol, não é? É melhor ser falado do que não ser. E nós continuamos a fazer muitos espectáculos ao vivo e a viver muito dessa actividade e a ser muito alimentados pelo apoio que recebemos. Portanto, isso para nós acaba por ser um fait-diver, porque eu sei que os humoristas precisam de material para actuarem. Não posso nunca levar isso a mal.

 

Há quem idolatre as letras e quem não as suporte. Como gere esse confronto?

Eu próprio sou fã de música e tenho essa atitude em relação a muitas bandas. Aqui, em Coura, por exemplo, vi concertos com algum preconceito e gostei; outros, vi-os com expectativa e detestei. Portanto, eu sei o que é levar as coisas a peito. A nossa actividade e arte em geral  vive das pessoas que levam as coisas a peito. Não me interessa muito o lado racional. Não levo nada a mal pessoas que odeiam ou as pessoas que gostam. Aliás, já tenho falado com muitas pessoas que odeiam e acabamos a beber um copo juntos e a perceber que afinal temos gostos comuns. O que torna esta área diferente da economia é que realmente as pessoas levam as coisas a peito e agem um bocadinho irracionalmente. Gosto disso. 

 

Tendo apurado gosto musical como explica que muitas das suas canções não acompanhem esse critério de gosto?

Sempre houve um sentido de globalização nos Delfins, quase como um dever de profissionalização em relação a ter uma actividade profissional neste país, fazendo uma música de que não nos envergonhemos, que gostamos e que queremos que chegue a mais algum  lado. Sempre recusamos ter a música como segunda actividade, o que é muito comum em Portugal. Há músicos que têm a sua profissão e depois dizem que se sentem livres para comporem o que entenderem. Sempre fomos contra isso. Eu penso a música como um sentido apurado de trabalho ao longo dos anos e que só é possível com dedicação a tempo inteiro. Somos dos poucos, em Portugal, ainda apaixonados pela canção pop. Os Delfins têm feito isso com óptimos resultados. Em canções como "A baía de Cascais" ou "Lugar ao sol" que duram há mais de 20 anos, pode questionar-se o valor de gosto de alguém que diz que é mau, mas nunca o valor da canção como estrutura que ficou na História.

 

Tendo aderido a dada altura ao punk, por que nunca perdeu o visual de menino da linha de Cascais?

Alguém se referiu ao Pete Doherty como um "betinho com ar drogado". Achei piada. A grande lição de final do século XX é que o importante são as ideias, não a estética. Em Cascais sempre houve uma grande rivalidade entre o betinhos da Cascais – nós - e os da Av. de Roma - os Xutos. Mas isso só existe nesse eixo. No Porto nunca nos chamaram betinhos.

 

Entre o músico e o escritos onde fica a pessoa?

No limbo. Mas como o limbo já foi anulado pelo Vaticano, neste momento, se calhar, fica no hiper espaço.

 

É verdade que usa pseudónimos?

Sim, nos livros e on-line. Termos algum sentido de esquizofrenia liberta-nos para podermos assumir várias máscaras.

É verdade que leva uma câmara de filmar para onde quer que vá?

É. Tenho coisas publicadas online, filmes montados e realizafos por mim, muito na óptica do documentário e nunca da curta-metragem. Tem sobretudo a ver com concertos dos Delfins.

 

Olhando para trás, preferia não ter feito o genérico do Big Brother ou ter apresentado as cantigas da rua?

Aprendemos com os erros. Se calhar, algumas dessas coisas foram comunicadas deficientemente e passaram uma imagem errada. Em Portugal, que é um país pequeno e o único onde as pessoas gozam umas com o sotaque umas das outras - isso não acontece na Alemanha ou em Inglaterra -, há um certo tipo de atitudes, que têm a ver com conceitos mais populares, que podem ser lesivas para a imagem. Não é por isso que deixo de fazer as coisas.

 

É o seu lado de actor?

Sim adopto a parte esquizofrénica do nick name e resolvo estes problemas.

 

Também está à espera do Iphone?

Não. De todo.  Houve uma altura da minha vida em que era viciado em gadgets; hoje tenho quase atitude de repulsa e quero fazer as coisas da forma mais orgânica possível. Aliás, este disco dos Delfins foi gravado num estúdio dos anos 70, com válvulas, com pessoas reais a tocar instrumentos de madeira. O progresso está a levar-nos a descobrir a essência das coisas, e os gadgets são um entretenimento de que me tenho afastado.

 


publicado por JN às 03:52

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