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Sábado, 21 de Julho de 2007

Zita Seabra: "Recusaria editar o livro de Carolina Salgado"

Helena Teixeira da Silva

Primeiro, atende o telefone na Alêtheia, editora que lidera desde 2005. Pergunta se a entrevista é sobre o livro de memórias  “Foi assim”, que acaba de publicar. Não é.  Mas Zita Seabra, 58 anos, talvez a mais conhecida dissidente do PCP, acede na mesma. Da segunda vez, já atende o telefone no Parlamento, onde é deputada pelo PSD. Hoje,  vai para o  estrangeiro. Respondeu em 24 horas.

Tem pena de nunca ter chegado a cumprir um percurso como bailarina?

Tenho, muito particularmente de ter ficado sempre sem saber se um dia teria chegado a pisar o palco do Royal Ballet of London, onde dançou o meu professor.

Até que idade brincou com bonecas?

A minha mãe diz que até aos 10 anos

Fica assustada quando jovens de 15 anos aderem actualmente ao PCP ou já não há motivo para isso?

Já não há motivo, nem para eles aderirem nem para eu ficar assustada.

Quem muda radicalmente de partido muda também de amigos e de princípios?

Os comunistas, por princípio e por ideologia, colocam o Partido acima de tudo o resto, da família e evidentemente dos amigos. Como relato no «Foi Assim», desde que se tornou conhecida a minha dissidência, ninguém mais me dirigiu a palavra na sede do Partido.

Viu serem-lhe fechadas portas quando sair do PCP?

Não, vi abrir-se-me a vida.

Com essa mudança há uma parte da sua vida a que pura e simplesmente fez "delete"?

Se assim fosse não teria escrito o livro «Foi Assim», as memórias desse tempo da minha vida.

Tem pesadelos com o passado?

Não, já tive mas presentemente não.

Se houvesse caminhos para o passado, que parte gostaria de recuperar?

Gostaria de emendar o sofrimento que causei aos meus pais nos anos de clandestinidade.

Contar o passado é uma forma de o arrumar?

Não, é uma forma de impedir que alguém faça «delete» ao meu passado. E contá-lo é também permitir que muitos conheçam a tragédia que foi o comunismo português, mas também a heroicidade dos muitos que lutaram pela liberdade em Portugal.

Apontam-lhe algumas incongruências no livro. É verdade que as memórias são sempre construídas de acordo com os quadros referenciais do presente?

Um livro de memórias não é um ensaio nem um manual de história, e este é tão-só o relato na primeira pessoa do que foi a minha vida, desde 1965, quando me fiz militante do PCP com 15 anos, até ter saído do comunismo em Março de 1989. Nas páginas do «Foi Assim», procurei sobretudo escrever com verdade, sem ressentimentos, sem culpas, repito, com verdade, o que foram esses anos da minha vida.

Estar no PCP foi como estar fechada numa espécie de convento?

Não. Num convento, que eu saiba, não paira a ameaça de se ser preso pela PIDE a cada dia.

Sente que o partido a privou de uma vida pessoal normal, sobretudo na adolescência?

Claro que sinto. Não tive adolescência porque aos 17 anos passei à clandestinidade, abandonei a família, a minha casa e fui viver nas mais duras condições como «camarada de uma casa do Partido».

Escreveu: "Aqueles que não lutaram pela liberdade em Portugal não me julguem". Quem, teoricamente, poderia julgá-la?

Refiro-me aos que quando a questão da liberdade se colocou em Portugal não lutaram contra a ditadura de Salazar e Marcelo Caetano e que uns anos depois me perguntam com ar escandalizado: «Mas não via como atropelavam as liberdades nos países do socialismo real?»

Já foi a Cuba simplesmente de férias?

Não, era incapaz. Teria muita pena dos cubanos que estão presos, escritores e jornalistas, nas cadeias da Cuba socialista. Um deles, Raul Rivero, poeta e jornalista, foi há dois anos condenado, juntamente com 75 colegas seus da imprensa, a 20 anos de prisão. Rivero disse: «Eu não conspiro, eu escrevo.»

Tem curiosidade em relação ao futuro, pós morte de Fidel Castro?

O futuro será a democracia e a liberdade em Cuba.

A ideologia comunista ainda tem futuro ou está condenada?

Não, a ideologia comunista morreu em 1989 com a queda do muro de Berlim e a implosão do império soviético.

Que relação tem hoje com José Saramago?

Nenhuma, e vejo com pena que ele queira que Portugal seja uma simples província espanhola.

Mudando de assunto, gosta de centros comerciais?

Não.

É lá que vê cinema? Ou prefere outras salas?

Escolho as salas pelos filmes, o que faz com que por vezes vá a salas velhas e incómodas.

Que tipo de livro recusaria editar? (A D. Quixote, por exemplo, editora de Lobo Antunes, rendeu-se ao livro de Carolina Salgado…)

O livro de Carolina Salgado.

Disse ter ficado aliviada quando, em 2000, Manuel Maria Carrilho se demitiu do Ministério da Cultura. Sentiria, hoje, o memo em relação a Isabel Pires de Lima?

Quem?


publicado por JN às 03:19

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