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Sábado, 28 de Julho de 2007

Rui Reininho: "Tive esperança de que Rui Rio desamparasse a loja"

 

Helena Teixeira da Silva

 

Não há uma piada, um gesto histriónico, uma nota fora da pauta. O homem que chega excepcionalmente atrasado à esplanada de Leça, é um Reininho quase tímido, um romântico Rui de 52 anos. O carismático vocalista dos GNR está longe de perder o fôlego, mas anda numa luta contra o  tempo. Entre as dunas e o divã,  43 minutos de pura conversa de café.

 

Por que é que só veste calções ao domingo?

O domingo, para mim, geralmente é a segunda-feira. É o dia em que consigo estar mais descontraído e mais à vontade. Aos domingos, até me escondo, porque tenho uma incompatibilidade com o ritmo da maior parte dos seres humanos que me rodeiam: eles estão descontraídos, conduzem daquela maneira relaxada e eu estou tenso. Aos domingos, acordo cansado. Primeiro, resolvia isso indo à missa, mas agora como não vou…

 

Costuma fazer jogging nesta marginal, em frente a sua casa?

Não, porque isto, aqui, não presta. Os entendidos dizem que aquece muito as sapatilhas. E também não gosto de correr. Geralmente sou pontual.

 

As meninas de 18 anos ainda lhe acham piada?

Não sei. Não sei se terei piada para qualquer faixa etária. Mas acho que não, senão teria um programa de humor.

 

Enquanto artista, o que lhe seria mais difícil aceitar: o esquecimento ou a condescendência?

Gosto que se esqueçam de mim. Ciclicamente, fico muito aliviado com isso, porque depois há o efeito surpresa. A condescendência é o pior de tudo.

 

Os GNR já não vendem?

Ainda vendem qualquer coisa. Talvez já não se vendam.

 

Já se venderam?

Na minha curta carreira, de quase 27 anos com os GNR , já senti que estava a vender-me. Como dizia Freddy Mercury: "Somos todos um bocado prostitutas nesta profissão." Eu diria que, com prazer é mais caro.

 

Foi o artista convidado dos Balla, num concerto, há uns meses, na Casa da Música. Sente que entrou mais para salvar a noite do que para ser homenageado?

Não, diverti-me imenso. Gosto muito do Armando Teixeira e achei natural aquela reciprocidade. Para mim, foi uma honra.

 

Sim, mas a receptividade do público foi diferente.

Sim, acho que tem faltado aos Balla um hit que as pessoas reconheçam, porque talento não lhes falta.

 

Esta moda de toda a gente cantar com toda a gente significa o quê?

É normalíssimo. Desde a ópera que se faz isso. Para mim, tem sido um princípio de prazer. Dos grandes prazeres que tenho, e quero repetir, é fazer este chamado swing.

 

Uma boa parte dos músicos portugueses surgem, também, no novo vídeo de Jorge Palma. Estão todos unidos por ele?

Estamos unidos com ele. Eu disse-lhe: “Olha que sorte, estamos todos no teu funeral e tu ainda estás vivo”. Foi engraçado, porque há pessoas que não conhecia e com quem embirrava. Depois, passei a conhecer e deixei de embirrar. Aquilo acabou num grande jantar e numa grande festa.

 

Ficaram todos amigos?

Amigos, não. Não confundo conhecidos com amigos. Não fico amigo de todas as pessoas que me aparecem à frente. Já tenho amigos que cheguem. Mas é muito agradável passar uma noite com os manos Salomé. Ainda bem que o Palma está vivo e que nos juntou. Já não via, por exemplo, a Lena d'Água há anos e tivemos ali umas confidências fantásticas, que nem podem passar cá para fora. É um modus vivendi mais do que um modus operandi. Ali, estava tudo em vivendi. Fico muito contente com os meus contemporâneos. É das coisas que gosto mais, estar vivo com eles, ‘au naturel’.

 

Os Xutos & Pontapés representam a burguesia do panorama musical português?

Não! Nem pequenos, nem grandes. Vejo-os muito como pessoas, por quem tenho o máximo de estima. E têm uma característica muito interessante: funcionam como grupo, como colectivo, quase como colmeia.

 

Refere neles sempre esse sentido de união, que os faz esperar uns pelos outros. Por si, ninguém espera?

Não, se eu não me apressar, deixam-me plantado. Agora, estou com um mês de atraso. Estou com falta de tempo. Não é uma altura muito boa para me encontrar comigo próprio. Costumo ser pontual. Estou a correr um bocadinho atrás para tentar acertar uma série de coisas. Como diria o grande Alexande Melo: "As velocidades contemporâneas estão muito desacertadas". E eu não estou a conseguir acertar-me muito bem com elas. Estou um bocadinho descentrado. Ainda não estou no aflito, mas estou no limite.

 

Faz downloads na internet?

Não. Não tenho paciência, nem sequer para aquelas coisas mais piadéticas. Vou a poucos sites. Ali há muita informação e pouca formação.

 

Certamente, já encontrou CDs piratas dos GNR à venda…

Já, e já me aconteceu pedirem-me para os autografar…

 

Autografa?

Tenho uma posição muito contraditória em relação a isso, porque nós vivemos disso e é um roubo. Por outro lado, o preço a que as coisas estão, é um escândalo. Se fizesse uma edição de autor sentia-me roubado, porque ninguém tem o direito de apropriar-se das nossas coisas.

 

Mas a pirataria representa, também, de certa forma, uma lista de discos pedidos…

Sim, eu sei, e as pessoas fazem as suas colectâneas. O problema é que nós não somos subsidiados. Se fossemos, não me importava de dar e receber. Não é que eu defenda o subsídio, pelo contrário. Mas, a para minha carreira e dos meus pares, dos meus contemporâneos, talvez até nem seja assim tão grave, mas é um tiro no pé para quem está a começar. Talvez esses nunca atinjam os meios de subsistência, o que é muito grave. Terão que ter um segundo emprego? Não se poder viver do que se gosta é terrível. Eu ficaria muito triste.

 

Tem alguma música de verão?

Não. Tenho os géneros, só.

 

Nunca fica fixado numa música?

Fico nas que estou a fazer. Repito-as em várias circunstâncias, no banho, etc.

 

Isso não é meio egocêntrico?

Não, é um método de trabalho.

 

Gostou de actuar no “Rock in Rio”?

Não gosto muito de festivais, não é nada o meu ‘cup of tea’. Gosto de me dedicar só a uma coisa de cada vez. E ali é quase como estar sempre a mudar de parceiros, às vezes, sem grande vontade.

 

Mas o “Rock in Rio” também tem esse formato e esteve lá…

Francamente, é um festival a que não teria ido se não tivesse sido convidado. Não foi um momento muito agradável na minha carreira: entrei, pela primeira vez, num palco sem o ter pisado antes, fui lançado às feras e não tive hipótese de ensaiar em condições. No fim, praticamente cortaram-nos a luz, antes de agradecermos ao público. Não gosto de estar numa circunstância em que não posso controlar minimamente as coisas. Por isso, ainda fiquei a gostar menos de festivais.

 

Há uns meses, estava eu em Braga, no concerto do Antony…

Eu vi-o em Famalicão. Gosto muito dele, emociona-me muito…

 

…Sim, mas na noite desse concerto, o Rui estava na inauguração da exposição “Anos 80”, em Serralves, no Porto, a protagonizar uma performance sobre aquela década. É um nostálgico?

Não. Mas devo ter qualquer coisa a ver com os anos 80, senão o João Fernandes [director] não me teria convidado. Mas não sou nostálgico, nem dos anos 80, nem de museus. O museu é arte morta, por muito bonito que seja, por muito que se goste de Serralves, e eu gosto particularmente da casa. Mas gosto mais das pessoas.

  

Na Wikipédia lê-se que é “um dandy decadente, narcisista e pedante”. Revê-se na definição?

[Encolhe os ombros] Ai dizem isso? Já me chamaram tantas coisas! No outro dia, mandaram-me uma mensagem parecida com essa, a dizer que sou manipulador e egocêntrico. Se calhar, foi a mesma pessoa. Mas eu já não me vejo ao espelho, a não ser para desfazer a barba.

 

E na pose de Andy Warhol?

Ele é um incontornável da pop. Tinha um talento fantástico para se rodear de pessoas extraordinárias. Eu vivo muito isolado, tenho muita pena. Gostava de ser mais expansivo e dar-me com mais gente.

 

Isso quer dizer que as suas aparições, invariavelmente expansivas, são uma encenação?

Custa-me muito, talvez seja uma coisa meia bipolar. Já me fizeram essas análises, já fui para o sofá, já fiz regressões e uma série de autocomiserações. Às vezes, é por excessiva timidez que chego a esse ponto de ser um bocadinho exibicionista, histriónico, expansivo. Há um lado muito inseguro, como todos os mortais têm. É medo. Eu tenho medo.

 

Já não tem idade para ter medo…

Não tenho? Cada vez tenho mais medos. E controlo-me para não ter ataques de pânico, como toda a gente. Não é medo da dor; é medo pelo que ia deixar de usufruir do futuro desta vida.

 

Já experimentou o novo circuito nocturno da Baixa: Passos Manuel, Pitch, Plano B?

Às vezes, apetece-me fazer essa coisa do “sair à noite”, mas controlo-me. Até porque agora, gosto mais das manhãs. Já experimentei esse circuito, mais seria mais agradável se pudesse voltar para casa a pé. Nasci ali – Rua Fernandes Tomás, 19, 3º -, e tenho muita pena de ter que ir à Baixa e ver aquilo sempre tudo em pantanas. É perigoso, desagradável e até feio. Tenho desgosto pela maneira como espatifaram a Cordoaria. Está um nojo. Adorava aquele jardim romântico e agora parece uma prova de estafetas.

 

Não gosta sequer das esculturas de Juan Muñoz?

Não fico nada embasbacado com isso.

 

Fica embasbacado com quê?

Com coisas muito pueris: uma florzinha, um sorrisinho, uma gotinha de água, uma teiazinha de aranha…

 

É um lírico?

Não, não é isso, mas fico mais contemplativo com isto do que com a arte. Às vezes, não tenho paciência para esta obrigaçãozinha pós-moderna de ter que ver tudo: escultura, pintura, música, cinema. É muito cansativo ter que se ser moderninho, estar actualizado, informado. Primeiro, um homem tem que ser bem formado e amigo dos seus amigos. Civilização antes da cultura.

 

Tem de a tornar-se cada vez mais…

Chato… eu noto.

 

… não, mais político, mais interventivo?

Tenho as mesmas convicções. O que me alterou foi a ligação ao sítio onde vivo. Sou mais interventivo do ponto de vista autárquico, embora, para mim, a política seja uma arte menor. Agora, do ponto de vista do que entendo ser preciso, porque não hei-de insistir teimosamente?

 

Foi convidado para os “Prós e Contras” sobre o Porto?

Fui.

 

E foi?

Não. Estava doente.

 

E viu?

Não me apeteceu. Mas disseram-me que foi muito desagradável. As pessoas estavam muito ressentidas, não foi? Disseram-me que eram os meninos ricos a contar que Lisboa não lhes dava dinheiro…

 

Sente que o Porto está a precisar de renovar os protagonistas?

São sempre os mesmos cromos, não é? Mas as pessoas também puxam sempre pelos mesmos. Mesmo na revista espanhola “Hola” aparecem sempre as mesmas princesas...

 

Agora ameaça tornar-se também numa dessas “princesas”. Passou a ser presença assídua nas revistas cor-de-rosa…

Também fico muito surpreendido. No outro dia, fui jantar fora e apanhei ali uma série de paparazzi e pensei: "Que interesse é que isto tem?" Não percebo este súbito interesse.

 

Provavelmente, querem apanhar a Catarina Portas aqui, consigo…

Aqui? Mas já não seria a primeira vez. Ainda no outro dia estivemos, os dois, nesta esplanada, a recordar, com uma certa saudade, o trabalho que ela fez comigo, há mais de 20 anos. Há um excerto disso no meu livro. Ela era ainda uma jovem jornalista a iniciar o seu estágio.

 

Isabel Pires de Lima é uma boa representante, no Governo, dos políticos do Norte?

É melhor não falar dos políticos do Porto, embora eu tivesse uma leve esperança de que o doutor Rui Rio fosse Primeiro-Ministro. Pelo menos, desamparava a loja. Era engraçado vê-lo a acabar com os subsídios todos do teatro. Aliás, acabaria com o próprio teatro e iríamos todos ver o “Jesus Cristo Superstar”…

 

Já foi ver o musical de Filipe La Féria?

Não. Mesmo quando estreou, em Londres, eu achava muito esquisito que as pessoas fossem ver. Vi o filme e achei horrível. A minha primeira namorada a sério foi ver três vezes e disse que se emocionou imenso. Foi a nossa primeira discussão.

 

Aceitaria escrever para La Féria?

Ele já me convidou, já não me lembro para quê. Tivemos até uma reunião, mas incompatibilizamo-nos logo. Ele disse uma coisa muito engraçada: “Eu sou um grande ditador, exijo disponibilidade total das pessoas.” Eu não tinha tempo, nem total, nem parcial. Mas tenho um certo apreço pelos actores, são muito malucos, dizem a mesma coisa todos os dias.

 

Não é como cantar todos os dias?

É, mas eu não canto todos os dias. Canto quando me apetece, quase nunca forçado. O mais cansativo é as viagens, sobretudo para um grupo sedeado no Porto. E depois vêm-me com as tangas das otas! O Porto já é uma cidade otizada e ostracizada. É terrível demorar 12 horas para viajar da ilha de S. Jorge até à ilha do Porto.

 

É “a ilha sem sabor tropical” que canta?

Exactamente.

 

Já teve vontade de escrever outras coisas que não apenas canções?

Já. Tenho escrito outras coisas, tenho-me estendido para a prosa, mas tenho tendência para simplificar. Já desliguei o descomplicador há muito tempo…

 

Não parece…

Estou muito complicado, ainda? Mas ando a tratar-me, com franqueza. Gostava de estender-me por outras coisas. Agora, já há tanta porcaria em termos de livros, que não quero contribuir. Mas ainda não publiquei porque não quis.

 

 

 

 

 

 

 


publicado por JN às 03:25

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