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Quarta-feira, 29 de Agosto de 2007

Carlos Magno: "Cavaco quer merecer o cartão de jornalista estagiário"

Helena Teixeira da Silva

Conhece os truques e as curvas das perguntas. Quando não existem, lê nas entrelinhas. E, na dúvida, responde como se estivessem lá. Carlos Magno, 52 anos, jornalista e comentador do palco político da nação aproveita a boleia para deixar recados. Entre sucessos e fracassos não perdeu o pé. Em alguns casos, só a fé.

 

Que parte do seu percurso, pessoal ou profissional, apagaria da Wikipédia?

Nenhuma. Sou um liberal. Nem sei o que lá vem escrito A Wikipedia não é a caixa negra do meu percurso, nem a memória íntima de qualquer imagem pública. É só uma parede virtual, onde cada um escreve, anonimamente, o que lhe apetece sobre os outros.

Sente que perdeu o pé quando tentou criar a NTV?

Só perdi a fé. Acreditava no bairrismo cosmopolita do Porto e percebi que esse projecto só será possível na próxima geração. Criei a NTV quando os próprios accionistas quiseram fazer abortar o projecto muito antes do arranque. Apesar disso ficaram na RTP grandes jornalistas que eu formei. Embora outros tenham sido dispensados. Precisamente por serem ainda melhores.

O canal era, como chegou a ser dito, o espelho do seu criador?

Sobre os espelhos sugiro a leitura de um livrinho de Umberto Eco precisamente com este título: «Sobre os espelhos». É lá que ele explica as ilusões ópticas entre a semiótica e a semiose. 

A travessia do deserto existe mesmo ou é um mito?

Desertar, agora que Portugal está um oásis, faz-me lembrar o camelo que não percebe a mensagem do Sérgio Godinho: « …e o Porto aqui tão perto».

“Intelectual-crítico-amante-de-prazeres” é uma definição que encaixa em si ou escolheria outra?

Se eu respondesse a esta pergunta você não me faria a próxima, mas olhe que eu faço uma avaliação crítica dos intelectuais sem prazer.

Há quem defenda que quando se olha ao espelho fica abismado com “tanta beleza e tanta perfeição”. É assim ou nem tanto?

É muito mais do que isso. Sobretudo quando olho para o retrovisor e vejo uma mulher bonita no carro atrás de mim.

Não resiste a escrever sem fazer jogos de palavras, trocadilhos. É um truque calculado ou algo que lhe sai espontaneamente?

Depende. Perante um inquérito destes, por exemplo, a tentação é evitar jogos de linguagem. Mas não consigo porque as suas perguntas trazem calculado o truque. E se eu responder sem trocadilhos lá se vai a paciência do leitor.

Rescindiu com a TSF em 2004. Um dissidente continua a ouvir a rádio que fundou?

Com a mesma naturalidade com que a TSF me ouve a mim.

Da TSF tem mais saudades do Grande Júri ou de Freud & Maquiavel?

Tenho saudades do tempo em que a TSF tinha notícias.

Para Maquiavel todos os homens são movidos por interesses egoístas, por ambição e poder pessoal. Se Carlos Amaral Dias era Freud, Carlos Magno era Maquiavel. Quer dizer que se revê nesta convicção?

Li Maquiavel pela mão de Jorge de Sena que defendia a tese de que verdadeiramente maquiavélico era o Príncipe. O Carlos Amaral Dias ensinou-me a ler Freud. E com ele percebi que se o Maquiavel fosse vivo seria hoje um «spin doctor» do marketing político.

Política e psicanálise andam mesmo de mãos dadas?

Sim. Em total promiscuidade com a literatura, o cinema, o futebol, o sexo, a comida, os negócios estrangeiros, a música, as viagens, a lingerie e os agentes secretos.

Pode dizer-se que há um lado voyeurista nos analistas políticos?

Mas mais voyeurista é o público que leva a sério os comentários de políticos travestidos de analistas.

Como Fernando Seara, também acha que Marcelo Rebelo de Sousa seria, no actual cenário, o próximo melhor presidente da República?

 Acho que Marcelo seria um bom presidente da Câmara de Sintra.

Na política, quem ressuscitaria, se pudesse: Francisco Sá Carneiro ou Francisco Lucas Pires?

Acho que fazem os dois muita falta à direita portuguesa e o Francisco Lucas Pires à própria direita europeia. Em 2008 vai fazer dez anos que o eurodeputado morreu. Mas tenho falado com alguns dos seus amigos e espero que no próximo ano nos encontremos todos em Ofir. Eu estive lá como jornalista e sei que quem melhor aproveitou as ideias daquele grupo liberalizador de Lucas Pires foi Cavaco Silva como Primeiro-Ministro.  

E no jornalismo?

No jornalismo ressuscitava o Victor Cunha Rego que era um homem de esquerda e andou várias vezes com a direita às costas. Ou vice-versa, como ele dizia. Mas ressuscitava para a rádio um que, felizmente, está bem vivo: Francisco Sena Santos.

Cavaco Silva vetou o Estatuto do Jornalista. Ficou surpreendido?

 Não. Acho que o Presidente da República é sempre o maior líder de opinião no nosso sistema político e Cavaco Silva quer merecer, hoje, o cartão de jornalista estagiário que nos lhe oferecemos, simbolicamente, no seu 48º aniversário, em plena campanha eleitoral, quando ele achava que nós cobríamos mal os seus comícios.

Acha que os media ajudam a tornar periférico tudo o que não está em Lisboa ou é, apenas, inglória a luta no sentido contrário?

Eu nunca me senti periférico. Acho é que a agenda mediática portuguesa se tornou quase merdiaticamente irrelevante.

Em que é que a nova geração de jornalistas é diferente da sua?

Na falta de memória.

O que há em si de verdadeiramente transmontano?

Eu não gosto da palavra transmontano. Prefiro dizer que sou nordestino. E costumo dizer aos meus conterrâneos que um transmontano é um resistente. Mas um nordestino é um sobrevivente com uma bússola para descobrir o Norte e com ele o seu destino. 

Qual é hoje o seu Norte?

O Norte de que se fala nos jornais é uma invenção do Sul. O meu Norte é uma frase do professor Agostinho da Silva quando me dizia que «há muito Norte a sul do equador que nos passa pela cabeça».


publicado por JN às 03:43

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