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Domingo, 23 de Março de 2008

Carlos do Carmo: "Façam ponte mas depois não se queixem da crise"

É homem de rara unanimidade no universo artístico português, embora o fadista repudie o conceito. "Não sou unânime, e não gostaria de sê-lo". Carlos do Carmo, 68 anos, a quem foi este ano atribuído o espanhol prémio Goya, estudou na Suíça e seria capaz de deixar Portugal. Mas é aqui que quer continuar a lutar pela liberdade.


Subscreveu o abaixo-assinado em defesa da liberdade e da democracia. Ainda acredita que o "povo unido jamais será vencido"?
Não posso deixar de acreditar. Seria renegar a essência do que sinto e do que penso na vida.

Isso revela a sua intenção para 2009? É um cartão vermelho para este Executivo?
Não se trata de não votar neste Executivo. Nunca votei no PS.

Concorda com a ponte de quinta-feira, 20, que José Sócrates deu à função pública?
Podem criar-se essas benesses, ir pelo caminho mais fácil, mas depois não se queixem da crise - a única coisa de que se fala no dia-a-dia. Se todo o tempo de trabalho fosse preenchido, dariamos um bom contributo para a estrutura económico-financeira e para a nossa balança de pagamentos.

Seria então capaz de trocar Portugal por Espanha?
Não teria qualquer problema. Gosto muito de Espanha. Mas o país onde gosto de viver é este.

Mas é por sentir-se injustiçado aqui, que diz que quem o quiser ouvir deve sintonizar a Rádio nacional espanhola?
Não. Tem a ver com o provincianismo da rádio em Portugal continua obstinadamente a não passar música portuguesa. E quando o faz, evoca a quota ditada pela votação na Assembleia da República, o que é ridículo.

Esse provincianismo contraria aquela simbologia nacional que coloca o fado ao nível de Fátima e do futebol?
Não sou adepto dessas simbologias. Mas nunca me lembro de ver tanto futebol discute-se a cor da camisola, das chuteiras, os árbitros, e depois o futebol que se joga é pobre. Em relação a Fátima, sou crente, mas não vou atrás de fantasias quando por trás há imenso comércio de que não gosto. O fado é o que tem menos a ver com isso. É das raras canções do mundo contemporâneo que dura há século e meio. Sou acérrimo defensor do fado, embora o considere uma canção de minorias.

O milhão de euros que Carmona Rodrigues atribuiu ao filme 'Fados' [de Carlos Saura] fazia do ex-autarca a sua escolha para Lisboa?
O professor Carmona ainda não era presidente da Câmara de Lisboa quando, numa visita que lhe fiz com a equipa da produção do filme, disse que se fosse eleito poderíamos contar com essa verba. E cumpriu a promessa. Mas não foi um gasto para a autarquia; foi um investimento com grande margem de lucro, porque o filme já foi vendido para 93 países.

A polémica em torno da autoria de "Fado da saudade" ensombrou o Prémio Goya que lhe foi atribuído?
A polémica só faz sentido quando existe ao nível do 5.º andar e não da subcave. Fiz o que me ditava a consciência liguei para a Sociedade Portuguesa de Autores, que esclareceu o assunto.

A sua popularidade tem-lhe granjeado muitos inimigos?
Tenho os meus amigos. Inimigos sempre tive. Fico sobretudo feliz por ser reconhecido por uma fatia grande da população, que gosta e respeita o que faço com o fado.

É o único fadista a ter um fado de Júlio Pomar?
Penso que não. Julgo que a Cristina Branco também tem. Tê-lo como poeta é a garantia de tê-lo por perto. É figura rara. Feliz do país que tem uma personagem assim inteligente, sensível, com uma beleza no olhar especial.

Consegue explicar o que é isso de ter alma de fadista?
Ah, se eu soubesse explicar... Não sei. Só sei que gosto muito de fado, de forma quase irracional.

Continua a ser um homem amante da noite?
Ah, sim, completamente!

Porque é que é sempre à noite que diz encontrar o amor, a generosidade, a disponibilidade das pessoas?
Porque todos os meus amigos foram feitos à noite. Gosto muito da noite, é daquelas coisas que a vida acentua. Comecei por um lado boémio, irracional, transgressor. Hoje continuo a gostar muito da luz de Lisboa, mas assim que começa a luz a pôr-se, há qualquer coisa no meu cérebro que dinamiza.É aí que aprecio a vida de modo intenso.

Teve mesmo esse lado mais transgressor?
Completamente! Mau seria. Sou um homem com muitos defeitos. Felizmente, sou humano.

Ver a morte prendeu-o ou desprendeu-o mais da vida?
Sobretudo fez com que deixasse de desperdiçar tempo. Aboli da vida as palavras ódio e roncor.

O seu primeiro trabalho chamava-se 'Loucura'. Seria loucura deixar de cantar?

Deixar será inevitável. Não será por loucura, mas por incapacidade. Não gostaria de um dia apresentar-me em decadência.


publicado por JN às 03:20

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