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Terça-feira, 31 de Julho de 2007

Miguel von Hafe Pérez: "Na política desiludiu-me a desistência do impossível"

 

 

Helena Teixeira da Silva

Seis da manhã. Miguel von Hafe, 40 anos, chega a casa da primeira incursão pelo Plano B, recente espaço a cair nas boas graças dos portuenses. É nessa altura que o autor de ‘Anamnese’, compilação inédita de arte contemporânea portuguesa, responde por mail à entrevista combinada por SMS.  Com travo a desapontamento político. “Desistir? Talvez.”

 

Tem em comum com Rui Rio o facto de ambos tocarem bateria e terem frequentado o colégio alemão. É mais o que os une do que o que os separa?

Do supostamente em comum: imagino o nomeado a acompanhar graciosamente a orquestra do James Last. Quando o fiz, movia-me em territórios que na altura se apelidavam de “urbano-depressivos”, o que quer que isso significasse. Quanto ao Colégio Alemão: eu não frequentei; acabei, não sei como. E não tenho necessidade de estar sempre a badalar a minha passagem por lá, como se isso demonstrasse o que quer que seja. Do que nos separa: a vida, os seus modos de uso e a projecção daquilo que entendemos ser expectável por terceiros.

O que faz com que alguém com percurso nas artes seja seduzido pela política?

Estava farto das conversas de café, onde todos opinam, mas ninguém paga a conta.

Acredita na política da mesma forma que acredita na arte?

Claro que não! Na arte seduz-me o jogo tensivo da construção de possíveis impossíveis. Na política desiludiu-me a desistência do impossível e o consequente consolo com o possível.

No seu caso, a arte foi um trampolim para a política? Ou funciona nos dois sentidos?

Trampolim é a minha vida. Com saltos mortais e piruetas mal calculadas, mas sempre com um anjo a aparar as quedas. Se a arte fosse trampolim do que quer que fosse, mais valia dedicar-me à ginástica desportiva. A política, tal como nós a imaginamos, já não existe.

Apesar de figurar na Oposição do actual Executivo, admite que não há quem represente os interesses de quem não votou PSD?

Como costumo explicar à minha filha, a política concretiza-se nos mais pequenos gestos. Assim, quando a tento convencer a não fazer “downloads” de música na internet, faço-o para a alertar para uma necessidade política, isto é, de se respeitarem os produtores culturais e aquilo que eles representam nas sociedades contemporâneas. Nesse sentido, todos, individual e independentemente de ligações mais ou menos circunstanciais aos partidos políticos, exercemos política e, como tal, todos temos responsabilidades acrescidas na formação do quotidiano. O que me impressiona é a assunção de muitos que a política só se produz nos orgãos mais ou menos institucionalizados. E, enquanto tal, a desistência generalizada de intervenção no espaço público.

O exercício cívico, nomeadamente o da vereação, deveria ser pago? As convicções têm um preço?

Claro que sim. A minha babysitter ganha mais do que eu na vereação, e não o faz por convicção.

Esta é a sua primeira experiência política. Será também a última? Já teve vontade de desistir?

Última, de certeza. Desistir, talvez.

Se tivesse sido eleito vereador da Cultura, teria começado por onde?

Por dizer que faço parte dessa ganga. Por dialogar com as instituições e com os criadores no sentido de se encontrarem sinergias criativas, financeiras e de visibilidade. O Porto não precisa de mais estruturas culturais, nem de mais autores...estes têm é de ter plataformas de visibilidade onde se reúnam condições de trabalho e de visibilidade condizentes com o papel que eu penso que a cultura deve deter numa cidade cosmopolita.

O Porto 2001 não passou de um fogo fátuo?

Só para os cegos, ignorantes e ressabiados. Agora que ninguém se esqueça que a programação cultural desse evento teve só cerca de dez por cento do orçamento global...e não gastou nem mais um cêntimo do que o previsto...Sinceramente, acho que se fizeram milagres e a História virá confirmá-lo. A herança continua aí para quem a quiser apadrinhar. Exemplos: o que se fez nos ateliers da Lada, o Cace Cultural do Freixo, para não falar da Casa da Música...

Qual é o seu actual roteiro cultural?

O mundo, entre mortos e vivos, como sempre.

Há quem defenda que a arte contemporânea tem um lado de vigarice evidente, de onde não é possível retirar qualquer ensinamento ou prazer, servindo apenas para alimentar um mercado pseudo-intelectual. Supondo que não se revê nesta afirmação, que argumento usaria para a defender?

Não me defendo. Prefiro defender-me dos que partilham tal opinião.

Como se ensina o grande público a apreciar um litro de sémen congelado como o "White Cube", de João Leonardo, na Universidade do Porto?

Com paciência. Como se ensina alguém a jogar xadrez? Temos de ensinar algumas regras básicas e a partir daí se não sair um jogador de xadrez ninguém levará a mal, com certeza. Agora o que nenhum aprendiz de xadrez (e da arte) pode exigir é sentar-se à mesa e começar imediatamente a jogar.

A renitência por parte de alguns núcleos artísticos nacionais à colecção Berardo é, também, um sinal evidente de inveja?

Talvez. Mas há sectores melhor e pior informados.

Aceitaria ser o curador que se segue de Joe Berardo? Ou gostava de beneficiar só das mesmas condições que têm no CCB?

Não. Sempre tive a sorte de poder criar as minhas próprias condições, ou de encontrar quem as pudesse tolerar, fomentar ou com elas dialogar.

Já viveu em Barcelona e a efervescência das artes plásticas vive-se mais em Lisboa do que no Porto. Não sair da cidade é um acto de resistência?

É. Contudo, esta cidade mantém uma energia telúrica e silenciosa capaz de enfeitiçar os mais incautos, sendo eu um deles. Agora, não posso deixar de sentir o agravamento generalizado das condições económicas da maioria da população, o desleixo e abandono do centro da cidade e a hostilidade relativamente a um sector simbólica e, porque não dizê-lo, economicamente tão vital como o cultural, como uma enorme ferida exposta que começo a ficar farto de lamber.

Na Internet, existe uma árvore genealógica com todos os dados sobre a família von Hafe, desde os antepassados até à última geração, a dos seus filhos. Quem a actualiza? E porquê?

Boa pergunta...devem ser os mormons.

Sendo fâ dos Young Marble Giants , está excitado com o regresso deles ao estúdio depois de 27 anos? Ou tem medo de uma desilusão?

Quem ouviu “Colossal Youth” no tempo certo não ficou igual para o resto da vida (ou assim imagino eu um mundo perfeito). Medo, agora? Claro que sim.

Um curador de artes plásticas tem mais capacidade para entender a história do filme de David Lynch "Inland empire" ou fica à nora como os outros?

Terá, porque sinceramente só entendo “Inland Empire” como uma videoinstalação com um loop de mais de três horas...ou seja, aquele filme é uma pintura. Aliás é muito curioso que do lado dos artistas plásticos se tem assistido a um movimento continuado de aproximação à criação cinemática, o que vai tornando este balanço saudavelmente pendular.

Fez agora 40 anos. Já sabe o que é a crise dos 40? Ou acredita mais na canção da ternura do Paco Bandeira?

Crise dos quarenta? Não, obrigado. Paco Bandeira? Não sei quem é...pelo nome deve ser toureiro. Crise tive eu aos treze quando ouvi pela primeira vez o álbum “God Save the Queen” dos Sex Pistols...aí sim, pensei que o “No future” implicava não beber Laranjina C no dia seguinte e, após aprofundada reflexão existencial, fiquei-me, felizmente, pela última. 

 


publicado por JN às 03:56

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