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Domingo, 20 de Abril de 2008

Odete Santos: "Fazer as coisas quando me apetece cava um vazio"

No corredor da Assembleia da República ouvem-se as gargalhadas dela. Odete Santos, que completa 67 anos a 26 de Abril, deixou de ser deputada , mas não deixou de passar pelo Parlamento, onde esteve durante 27 anos.  Reforma não é palavra que rime com rebeldia. E é assim que ela quer ser recordada. Seria possível sê-lo de outra forma?

 

Deixou o Parlamento há um ano. O R de Revolução  continua  mais forte  que o R de reforma?
Claro! O R de revolução é muito mais forte porque o R de reforma faz lembrar um bocadinho o R de morte. Não gosto. Da política nunca ninguém se reforma. O homem é um animal político: faz política mesmo quando diz que não se interessa por ela. Portanto, não me reformei da política.

Consegue fugir à leitura triste do jornal no banco de jardim?
Consigo. Não me sento num banco de jardim assim como um reformado. Mas tenho alguns momentos um bocado dramáticos.

Faz-lhe falta vir à Assembleia?
Não me faz falta vir à Assembleia. Mas quando paramos uma actividade, o stress faz falta. Falta-me aquela labuta diária, que agora já não tenho, porque posso fazer as coisas quando me apetece e isso cava um vazio cá dentro.

Mas encontrou o silêncio de que dizia precisar?
Encontrei. De vez em quando é quebrado pelos meus cães. [risos]

Aproveita o tempo livre para aprofundar saber na genética?
Isso sim! Estou a investir e estou a pensar publicar um pequeno ensaio sobre investigação científica em embriões, que é um mundo maravilhoso.

E pratica natação. Ganhou tempo para fazer o quê mais?
É verdade, vou à piscina todos dias durante três quartos de hora. E participo em grupos de teatro, escrevo (escrevi um conto infantil com uma colega sua) e leio. Ah, e sou presidente da Assembleia Municipal de Setúbal. Até me esqueço, porque às vezes é muito chato [risos]. E depois tento manter laços de convivência com amigos à noite. De vez em quando tenho que me violentar...

...Obrigar-se a sair de casa?
Pois, porque a pior coisa que se pode fazer é ficar em casa. Começam a aparecer as doenças todas.

É hipocondríaca?
Um bocadinho, quando estou sozinha. Quando falo esqueço-me. É por isso que gosto de estar em casa, mas odeio lá ficar muito tempo.

Já foi ao Teatro Aberto ver a peça Rock’n’Roll, de Stoppard, sobre a queda do comunismo?
Ainda não. O teatro é uma das falhas que quero repor. Agora que estou mais equilibrada. Só que tenho de vir de Setúbal...

Nunca teve a tentação de ficar a viver em Lisboa?
Ah, isso não. O tempo dessa tentação já passou. Isso seria quando que andava na faculdade, habituei-me à vida muito própria de Lisboa e Setúbal, para mim, era província, uma parvónia onde os costumes mais revolucionários não eram admitidos.

Era boémia?
Semi-boémia. Gostava muito das tertúlias nos cafés...

Em Setúbal também tinha as tertúlias no Café Esperança…
Mas era diferente. Não era tão louco como cá em Lisboa.

Voltando ao teatro, é por ser contrapoder que gosta dele?

Exacto. Gosto do teatro porque tem qualquer coisa de contrapoder e isso seduz-me. Estou-me a lembrar de Bertolt Brecht . Ele era do Partido Comunista e, no entanto, escreveu um poema muito interessante numa altura em que houve um desaguisado entre o povo e um comité local do PCP. Perguntou: "Porque é que o governo não dissolve o povo?" [risos] 

 

Quando integrou uma peça de revista, em 2003, no Parque Mayer, houve quem tivesse ficado melindrado com a sua participação. Criou-se grande burburinho na blogosfera. Por que razão algumas actividades artísticas parecem estar vedadas aos políticos?

Eu sei que provocou escândalo, mas estive-me nas tintas para isso. O que a mim me preocupava era saber se os quadros que eu representava tinham alguma dignidade ou se era uma coisa boçal - e boçal não era. A partir daí, e tendo em conta que a revista radica muito em Gil Vicente, fui fazer, pela primeira vez na minha vida, teatro de revista. Mas não é toda a actividade que está vedada aos políticos. Escrever um livro não provoca celeuma nenhuma. Toda a gente acha normal. Pintar um quadro também. O teatro é parte de uma actividade cultural que foi sempre maldita e continuará a ser. E ainda bem. É isso que mantém a sua vivacidade e a juventude.

 

Sente-se mais em casa no palco do Teatro ou no palco do Parlamento?

No palco do teatro.

Não há pessoas insubstituíveis ou com Álvaro Cunhal morreu uma parte do PCP?
Morrer uma parte, não morreu. Mas é um personagem que faz muita falta e deixou uma marca muito própria no PCP. Há pessoas insubstituíveis, agora dizer-se que por faltar uma peça insubstituível não pode criar-se outra peça que a substitua, entre aspas - e não completamente - isso já não está correcto.

Acontece-lhe acordar sem lembrar que Cunhal já não está cá?
[Silêncio] Não. Os meus sonhos são dramaticamente pessimistas. Mesmo quando sonho, sonho coisas muito tristes. Nunca me aconteceu ter a ilusão de que ele era vivo.

Fica irritada com expressões como a 'queda' ou 'fim do comunismo'?

Irritada já não fico, porque isso não corresponde à verdade. E a prova está na vida do Partido Comunista Português, da América Latina, da Índia... Não foi o fim da história.

Já foi a Cuba desde que Fidel Castro transferiu o poder para Raul?
Não. Mas acompanho a realidade cubana pelo canal televisivo Cuba Televisão Internacional e sei que fazem muitas mesas redondas sobre política.

Tem curiosidade para ver o que mudou, além dos telemóveis?
Tenho. Estive duas vezes em Cuba. Da primeira vez foi num bocado dramático, muitos apagões, ministérios que fecharam... Da segunda vez, já não me lembro em que ano foi, houve uma evolução extraordinária para melhor na vida dos cubanos: mais carros a circular e foi introduzido o mercado de artesanato em que os privados vendem as suas coisas. Tenho curiosidade porque a sociedade cubana não está estratificada nem parada no tempo. Evolui. Para além dos telemóveis, deve ter havido outras evoluções e bastante interessantes. Espero voltar lá outra vez para ver. Se não morrer.

Se não morrer?!
Ah, pois, que tenho tido alguns problemas de saúde...

...São saudades do Parlamento...
Uma carótida entupida não é problema de saudades....

Como gostava que a recordassem lá na Assembleia?
A Rebelde.


Há quem diga que é o oposto da imagem do PCP:  ri e diverte-se. Perde o sentido de humor quando encontra um dissidente como Ricardo Araújo Pereira?
Ele é dissidente? [risos] Não o acho dissidente; acho-o muito divertido. No que escreve e no que faz. Não perco o humor, pelo contrário.

 

Fizeram as pazes, então?
Nunca me zanguei. E sei a que episódio está a referir-se [programa da RTP 1, "Dança Comigo]. Era a única atitude que o meu cargo de deputada me exigia que eu tomasse em defesa da Assembleia da República, que estava ali a ser enxovalhada como uma casa onde não se fazia nada. Não é assim. Há quem faça e quem não faça. Generalizar isso é perigoso. Mas não me zanguei. Podia parecer zangada, porque tenho esta maneira de falar, mas não estava.

E ao seu boneco no Contra-informação, também acha graça?
Já não vejo a Contra-Informação. Agora já devo ter desaparecido de lá, espero eu. Como já não ando na política, com certeza já não me ligam importância nenhuma. Mas sei que houve mudança do meu boneco, vi o novo. Está muito mais parecido, sem dúvida. Em relação ao primeiro, eles deram como desculpa que não era para ser a minha pessoa, mas uma cantora de ópera. E que, à ultima hora, resolveram que seria eu. Não estava nada parecido, mas não me ralei absolutamente nada com isso, até porque adivinhava que ia sair-lhes o tiro pela colatra. Suscitou um movimento de repúdio do público. Diverti-me a valer a ver os embaraços resultantes disso. Quando via o programa, havia, às vezes, uma piada mais forte como terem-me posto a vender línguas de Estaline. Mas isso faz parte da vida e da política.

E divertiu-se mais a dançar ou a fazer stand-up em televisão?
Embora tenha sido uma grande aflição - eu não sabia bem o texto, mas saiu certinho -, foi fazer stand up [risos].

Qual é o partido mais próximo do stand-up comedy real?
O Bloco de Esquerda.

Porquê?
Porque é uma comédia o que faz e diz. Eles vão ficar muito chateados, mas eles não convencem ninguém com aquelas titadas revolucionários. É a grande burguesia intelectual que ali está representada.

À Direita, Aguiar Branco afirmou estar disponível para derrotar Sócrates. Pode ser ele o salvador da pátria laranja?
O PSD tem um drama inultrapassável, seja por que figura for: Sócrates faz ainda mais política de Direita do que faria o PSD.

Diz-se uma corredora de fundo que acredita na vitória final. O que seria essa vitória?

[risos] Hei-de chegar, mesmo morta. Bem, à vitória final não chegarei. Era a vitória do comunismo e, no curto espaço de tempo que tenho para viver, não vou assistir à vitória do comunismo. Logo agora, com o desastre das eleições italianas.

O que é pior: agora, terceira vitória de Berlusconi em Itália, com maioria absoluta, ou os americanos terem entregue, por duas vezes, o país a George Bush?

Os americanos é bem pior. E ainda bem que me fala disso, porque ando com uma má disposição extraordinária desde que a Condoleezza Rice, o Ashcroft e o  Colin Powell  aprovaram as torturas a presos. É a pior coisa que se pode fazer a seres humanos. Estamos no século XXI; não estamos na Idade Média. Por isso é que é pior o caso dos EUA. O Berlusconi, mais dia, menos dia, volta a cair. A Itália é um palco extraordinário de construção de sucessivos governos que nunca acertam. Mas, a mim, o que me preocupa não é o Berlusconi; é o facto de, pela primiera vez desde a II grande Guerra, não haver nenhum deputado comunista no Parlamento, num país em que o PC tão forte e esteve para ir para o governo.

A sua mãe era professora primária e gostava de levar os alunos lá para casa. Usando essa experiência por contraponto às recentes notícias de violência nas escolas, costuma gostar de dizer que no seu tempo é que era bom?

Se há coisa com que francamenbte embirro é com a expressão "no meu tempo", porque isso indica que a pessoa está a ficar velha. Não tenho essa tentação. Os tempos mudam têm evoluções. Além disso, empola-se muito essa história da violência nas escolas. Estão a criminalizar-se determinados comportamentos da juventude que deviam ser resolvidos de outra menaira sem ser a recorrer aos tribunais.

 

Nesse aspecto está de acordo com o Bloco de Esquerda....

Não sei se estou. Sei que penso isso. Está a dizer isso por cauda da crítica de há bocado...  já estou arrepenbdida de ter dito. Devia ter dito PS, pronto, e estava tudo bem. Mas não, eu acho que o BE é o que melhor faz stad-up, pronto.

Hoje, já o disse, não teria escolhido Direito. Teria escolhido o quê?

Teria escolhido um curso da área científica, Biologia, ou assim, porque me apaixona muito isso.

  


 



publicado por JN às 04:06

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